Viajem de Cosme de Médicis a Portugal

Pier Maria Baldi - Coimbra - Aguarela a uma só cor sépia matizado - 1668-1669

domingo, 31 de março de 2019

O Baixo Mondego 

Nota: Deliberadamente continuo s escrever segundo as normas do  ACORDO DE 1945










Munda, um rio impetuoso
dos romanos ao séc XXI

Uma vezes impetuoso (Inverno), outras mansinho como um cordeiro adormecido (Estio) ...

... e, quer num caso, quer no outro, muitas preocupações tem dado ao longo dos tempos


Já Afonso Henriques, quando foi morar para Coimbra, se queixava do mesmo e até derrubou a ponte que os romanos ali tinham deixado e que à época já era o principal elo de ligação no sentido Norte/Sul e vice-versa.

Desde os tempos mais remotos, pessoas e mercadorias por aqui passavam nos dois sentidos pois era o lugar mais fácil para fazer a passagem do "Munda" nestas longitudes.

Para ocidente uma vasta planície aluvial se estendia até à Figueira da Foz e praticamente era intransponível o caminho para Norte, o mesmo, mas por razões contrárias, acontecia para o lado oriental com uma orografia difícil de escalar.


O "Munda" na região de Conimbriae

Preocupações ainda com as areias que desciam da serras beirãs e provocavam o assoreamento do leito provocavam e  enormes e repetidas inundações no casco urbana e nos campos de ambas as margens da cidade. A própria ponte romana retinha muitas das areias arrastadas das serranias do interior provocando forte assoreamento.


Por isso, em 1132, Afonso Henriques,  mandou construir uma nova ponte aproveitando as fundações da romana que já andaria muito perto do milhar de anos.

Mais de um século depois, por exemplo, o vetusto Convento de Santa Clara, era testemunha e disso já queixava a Senhora Rainha Santa Isabel pois o seu Mosteiro era  inundado com demasiada frequência 

Do mesmo se lamuriavam os "senhores seguintes" que até o abandonaram e o trasladaram para o cimo da colina onde ergueram um novo mosteiro.


Sabe-se hoje que nos últimos 600 anos, o leito do Mondego, no troço de Coimbra - Figueira, tem subido, em média, 1 cm por ano.
Feitas as contas temos um crescimento de cerca de 6 metros até esta data






Dom Manuel I também pensou no problema e à falta de melhor resolve deitar abaixo a ponte do "Fundador" e, no mesmo sítio, muito provavelmente sobre as fundações da ponte afonsina, mandou construir uma nova ponte de pedra.
Esta com 24 arcos e um maiorzinho ao meio com feitio de  "O"  daí ter sido baptizada como "Ponte do Ó"
Andávamos pelo ano de 1513




Esta gravura do séc XVI poderá ser a imagem (conhecida) mais antiga de Coimbra
Ao fundo da ponte e à entrada da cidade ergue-se o edifício da portagem. Pela encosta acima sobe a couraça (muralha) até ao castelo..  À direita, o aqueduto para abastecimento de água e à esquerda, o Paço Real da Alcáçova  que a partir da aquisição dos Paços, em 1597 (Filipe I) pela própria universidade,  passou a identificar-se como "Paços das Escolas"  


Coimbra - Ponte do "O"  e Monte de Nossa Senhora da Esperança
Repare-se no  intenso movimento fluvial (barcas) bem como  de pessoas sobre a ponte
desenhada da margem direita para o Monte de Nossa Senhora da Esperança (actual Santa Clara) sendo bem visível o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha (séc. XIV) , Convento de S. Francisco (1602) e Mosteiro Novo de Santa Clara (1677)

Coimbra vista de Santa Clara (Séc. XIX)
À direita da Universidade (já com Torre construída entre 1728-33 - D. João V - por Frederico Ludovice) está desenhado o Castelo
   Pormenor curioso o da barca no centro do leito do rio puxada à sirga  para vencer a corrente e, ao centro da margem inferior da gravura, o desenho do  "O" da ponte


Ponte com 24 arcos para "ajudar" a reter as areias e provocar mais e maiores inundações

Calcule-se que até  Filipe III equacionou a resolução do problema das cheias/assoreamento da cidade capital do Mondego





No entanto o monarca que mandou fazer estudos/projectos para acalmar as repetidas iras do Mondego foi D. Pedro II que em 1684 encarregou o Reitor da Universidade de proceder aos estudos de encanamento do rio.

D. Pedro II                     

Em 1703 surge uma  planta, realizada pelos engenheiros Manoel Mexia da Silva e Manuel de Azevedo Fortes que mostra o rio desde Coimbra até à Figueira da Foz com proposta de abertura de 2 canais em linha recta com o fim de atalhar e regularizar o leito do  rio.

Projecto "alveo novo"



No tempo do Marquês de Pombal, final do séc XVIII, o padre Estêvão Cabral é incumbido de realizar novo plano e finalmente avançam-se com as obras no troço Coimbra - Pereira do Campo, trabalhos começados em 1791,
Obra que viria a ser interrompida com as Invasões Francesas
Com a abertura deste novo leito a situação dos campos do Baixo Mondego melhorou muito mas nunca foi suficiente para resolver o problema chegando-se ao século XX numa situação insustentável.



Marquês de Pombal
 Plano de encanamento do Baixo Mondego - Projecto do Padre Estêvão Cabral
A vermelho o Rio Novo

Entretanto

Ponte de Santa Clara,  tabuleiro metálico em gaiola assente em pilares de pedra (1873-75)


Ponte Santa Clara (1954) (Candeeiros com iluminação a gás)
Pouco tempo antes da inauguração. Ao lado, a jusante,  a ponte velha (séc XIX)

Com um novo Plano da década de 1960, foram construídas as barragens da Aguieira e da Raiva ou Coiço, a fim de regularizarem o volume de águas a descarregar para jusante


Açudes/Barragens:
de Fronhas (rio Alva) e Coimbra   (1981)  (nesta última foi construída em 2012 uma "escada de peixe" que ambientalistas, e bem,  reclamavam)



Finalmente (???) as águas do Mondego no seu troça final (cerca de 40 KM) estão mais ou menos regularizadas: espelho de água frente à cidade e inundações + ou - regularizadas (excepção às inundações do Inverno de 2000/2001 que voltaram a alagar a "Baixa")


Bazófias, no calão estudantil e popular, refere-se ao Mondego, rio  turbulento e raivoso no Inverno que tudo levava à frente e alagava a cidade e os campos do Baixo Mondego... depois chegava o Verão e reduzia-se a uma minúscula linha de água que a ponte-açude construída em 1981 veio acabar e oferecer um magnífico lençol de água à cidade de Coimbra.

Ontem, imagens do Bazófias em Coimbra sem água, com um imenso areal, pontes de madeira, praias fluviais, e até piscinas são históricas:

Quem se lembra disto?

O Basófias no Estio - década de 30, séc XX
Em primeiro plano e no meio do leito do rio um engenho, azenha ou nora, de tirar água com a respectiva canalização para rega dos milheirais da margem esquerda. Em segundo plano e no meio do rio a celebérrima Ponte do Modesto (pedonal e de madeira). Junto à margem, as lavadeiras  Um pouco mais acima (não visível na foto) a Praia Fluvial, segundo sei foi a primeira de Portugal
procurar fotos

e disto

Ponte do Modesto (madeira)  - pedonal e bicicletas

Ponte de madeira - Choupal -  sobre o  leito do Rio Velho

A mata do Choupal data da década de 1860


Ponte ferroviária - Estação Velha - Coimbra 


Praia Fluvial Coimbra - 1939 - margem esquerda do Mondego





Entre muitos outros consultámos:

Coimbra e o Rio Mondego
http://www4.fe.uc.pt/fontes/trabalhos/2011009.pdf

Antropologia Portuguesa
https://digitalis-dsp.uc.pt/bitstream/10316.2/30625/1/AntropologiaPortuguesa6_artigo4.pdf?ln=pt-pt

A Água como Património
https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/36232/3/Mondego%20o%20surdo%20murmurio%20do%20rio.pdf

Rancho do Miro
http://www.gssdcrmiro.pt/index.php/seccoes/autonomas/rancho-tipico

Cavalo Selvagem
http://cavalinhoselvagem.blogspot.com/2009/01/os-barqueiros-do-mondego.html

Jornadas do Património Carregal do Sal
https://www.penacovactual.pt/2018/08/jornadas-do-patrimonio-os-barqueiros-do.html

Os Barqueiros do Mondego
www.carregal-digital.pt/cmcarregaldosal/uploads/writer_file/.../index__11_.php

Porto da Raiva
http://penacovabyheart.com/pt/pages/portodaraiva

Trajes de Portugal
http://trajesdeportugal.blogspot.com/2008/09/o-barqueiro-do-mondego.html

Parque Patrimonial do Mondego
https://www.repository.utl.pt/...5/.../dissertacaoMestrado_NUNO%20MARTINS.pdf

Passeando Pela História de Santo Varão
https://www.santovarao.net/passeando-pela-historia-de-santo-varao-xix/


sábado, 30 de março de 2019

LENDA dos Três Rios da Serra da Estrela 

Nota: Deliberadamente continuo s escrever segundo as normas do  ACORDO DE 1945

LENDA dos TRÊS RIOS da SERRA da ESTRELA



“Mondego, Alva e Zêzere, nascidos da mesma mãe, serpeando pelas vertentes da serra da Estrela, em santa irmandade, amigos e camaradas, viviam tranquilos e alegres, mirando-se cada qual na limpidez das suas águas, e escondendo-se nas gargantas, furnas e sorvedoiros da gigantesca serra. Umas tardes, já quase à boca da noite, envolveram-se em azeda conversa, porque se arrogaram valentias, ao que parece prometeram romper as prisões, que os detinham, trovejaram rivalidades, e acabaram por desafiar-se para uma corrida vertiginosa, cuja meta seria o corpo enormíssimo do mar. O primeiro, que lá esbarrasse...
- Qual dos três saberia melhormente o caminho? — Qual desenvolveria maior tafularia e força? — Quem seria o primeiro a oferecer as suas águas dulcíssimas às salsas águas do mar?
Era o que ia ver-se.
O Mondego, astuto, forte e madrugador, levantou-se cedo, e começou a correr brandamente, para não fazer barulho e não levantar suspeitas, é de crer, desde as vizinhanças da Guarda nos territórios de Celorico, Gouveia, Manteigas, Canas de Senhorim, e dirigiu se, depois de se ter robustecido com a ajuda de colegas, que vieram cumprimentá-lo, à Raiva, na direcção de Coimbra, depois de ter atravessado ofegante as duas Beiras. O Zêzere, que também estava alerta, entrou de mover-se ao mesmo tempo que o Mondego, ocultando-se até certa distância nas anfractuosidades do seu leito penhascoso; foi direito propriamente a Manteigas, onde perdeu de vista o colega, passou também nos terrenos da Guarda, correu para o Fundão, desnorteou, obliquando para Pedrogão Grande; e finalmente, depois de ter atravessado três províncias, deu consigo em Constância, na Estremadura, abraçando-se ao Tejo, a que ofereceu as suas águas, já cansado de caminhar umas 40 léguas e desesperançado de alcançar o mar.


O Alva, dorminhoco e poeta, embora esses atributos não sejam sinónimos, entreteve-se a contemplar as estrelas, mais do que era prudente, adormeceu confiado no seu génio insofrido e nervoso; e, quando despontou, alto dia, estremunhado, em sobressalto, avistou os colegas a correr sobre distâncias a perder de vista. Um desastre, não havia que ver! uma imprevidência, que era forçoso remediar. O Alva atirou consigo de roldão pelos campos fora, rasgou furiosamente montanhas e rochedos, galgou despenhadeiros, bradou vingança temerosa, rugiu ; e, quando julgou que estava a dois passos do triunfo, foi esbarrar com o seu principal antagonista, o Mondego, que lá ia, havia horas, campos de Coimbra fora, em cata da Figueira, onde se lançaria jubiloso no seio volumoso do Oceano, ao ganhar a porfiada contenda.
O Alva esbravejou, como atleta sanhudo, atirou-se ao adversário, a ver se o lançava fora do leito, espumou de raiva; mas... o outro, que deslizava sereno e forte, riu-se, e engoliu-o de um trago.






O Rio Alva nasce em Sabugueiro (Seia), na encosta sudoeste da Serra da Estrela, e após percorrer mais de 100 km desagua no Rio Mondego na localidade de Porto de Raiva,  a jusante das Barragens da Aguieira e de Coice ou  Raiva,
O seu leito percorre um caminho sinuoso entre as encostas da Serra da Estrela e da Serra do Açor onde escavou o seu leito.
O Vale do Alva é o vale formado pelo Rio Alva na Serra da Estrela, onde tem origem, e na Serra do Açor, que serpenteia até desaguar no Rio Mondego.
No seu leito muitas praias fluviais surgiram como Vimieiro, São Gião, Avô, Côja, Secarias, Caldas de São Paulo, Sandomil, e a zona de lazer das Fronhas junto à Barragem em São Martinho da Cortiça.




ALDEIA DE RAIVA
e os
CAMINHOS DE SANTIAGO


Os Caminhos de Santiago, que atravessam Portugal de sul para norte, em direcção a Santiago de Compostela, capital da Galiza, geminada com Coimbra, a sede do distrito ao que pertence o Município de Penacova e seu concelho vizinho, são seguidos pelos peregrinos desde há séculos.
O destino destes Caminhos é a Catedral de Santiago de Compostela, sob a qual, diz a lenda, se encontra o túmulo do apóstolo São Tiago, que evangelizou na Península Ibérica, então província de Roma. O culto deste santo popularizou-se ao longo da Idade Média dando origem a grandes peregrinações provenientes de todos os cantos da Europa. E em Portugal teve maior difusão a partir do séc. XII, com a fundação da nacionalidade portuguesa.
Dependendo dos locais de partida dos peregrinos, percorrem-se em Portugal vários caminhos com destino a Santiago de Compostela.
Um deles, e o mais percorrido, o Caminho Central Português sai da Sé de Lisboa e segue à beira do Rio Tejo por Alverca, Vila Franca de Xira, Azambuja, Santarém, Golegã e Tomar, antiga sede dos Templários em Portugal. Daqui continua em direcção a Coimbra, passando por Alvaiázere, Ansião e Rabaçal. Em Coimbra é imperioso visitar o Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, já que aí se encontra o túmulo da Rainha Santa Isabel (séc. XIV), que peregrinou a Santiago e se fez sepultar com os símbolos da vieira, da cruz de Santiago e do bordão. Continuando para norte, o Caminho segue por Mealhada, Águeda, Albergaria-a-Velha, São João da Madeira, Grijó, até entrar no Porto, onde começam os Caminhos do Norte.

Em alternativa, os peregrinos poderão em Coimbra seguir por Aldeia do Roxo, Vila de Lorvão, Vila de Penacova, Aldeia de Porto da Raiva, Aldeia de Cunhedo, Lago da Aguieira, Santa comba Dão, Tondela, até Viseu onde poderão a partir daí seguir pelo Caminho Português Interior (www.cpisantiago.pt), que os levará por Viseu, Castro D'Aire, Lamego, Peso da Régua, Santa Marta de Penaguião, Via Real, Vila Pouca de Aguiar, e Chaves.




BARCA DO MONDEGO

 Nota: Deliberadamente continuo s escrever segundo as normas do  ACORDO DE 1945


O Rio Mondego foi, em tempos idos, uma via fluvial muito importante, desempenhando um papel de relevo no comércio da região de Penacova, onde havia vários portos, sendo o da Raiva o mais importante centro de embarque e desembarque de mercadorias.
  A vida de muitos habitantes da região, sobretudo das povoações ribeirinhas, estava intimamente ligada ao rio os quais se dedicavam ao transporte de mercadorias, rio abaixo / rio acima, utilizando para o efeito uma barca, de nome “ Barca Serrana”.
  O nome “serrana” deve-se ao facto de ir da serra carregada de lenha, carqueja e ramagem, que era vendida para os fornos das padarias de Coimbra e Figueira da Foz. Para além destes produtos, eram levados, também, vinho, milho, azeite, carvão vegetal, telha e cal.
Na volta  carregava  sal, peixe fresco ou salgado, arroz e louça.





A Barca Serrana terá sido inspirada em modelos da Mesopotâmia e é da família dos moliceiros da Ria de Aveiro.
Era uma embarcação que media entre os 15 e 20 metros de comprimento por 2,40 de largura. Possuía o fundo chato de forma a facilitar a passagem pelos baixios e era utilizada sobretudo para a navegação ao longo do rio, num trajecto entre a região de Penacova e a Figueira da Foz. Tinha capacidade para transportar cargas até aproximadamente 15000 quilos. As extremidades eram em bico de ponta levantada e permitia a colocação de uma vela de lona branca, que se apoiava num mastro que poderia atingir os 8 metros de altura a fim de, com vento de feição,  substituir a vara na propulsão da barca.
Os barqueiros, eram gente pobre (pois esta profissão não enriquecia ninguém, era apenas uma forma de subsistência) andavam sempre de calças arregaçadas, e descalços.
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 A tripulação era habitualmente constituída por 6 homens.
Ao subir o rio, em direcção a Penacova, em caso de carência de vento para empurrar a barca, quatro homens, depois de amarrarem uma corda no bico da ponta levantada, saltavam para a margem e à força de braços puxavam o barco. Esta actividade, que exigia grande esforço, era conhecida como puxar o barco "à sirga”(*). Dos outros dois tripulantes, dentro da barca, um ocupava-se do leme e o outro, de vara espetada no fundo do leito, andando  pela borda da embarcação impulsionava-a para montante.
Era uma profissão muito dura  e que não teve seguidores. Actualmente esta profissão está extinta e a barca serrana é apenas um mero objecto de folclore, um vestígio de uma forma de vida que o tempo apagou
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(*)  Sirga, ou tira-vira, é um cabo (corda) utilizado para rebocar barcos em canais ou margens de rios, para ter controle do percurso ou para movê-los em condições de ausência de vento ou contra a corrente
Sirga era o cabo de sisal utilizado para rebocar os barcos a partir da margem.

Com a chegada do caminho de ferro (Linha da Beira Alta 1882), das estradas, do transporte rodoviário, a navegação a motor, este tipo de navegação e estes caminhos de sirga perderam utilidade e interesse e com eles desapareceram estas embarcações, este tipo de navegação e os próprios caminhos de sirga  "caminhos e calçadas por onde os barqueiros puxavam as barcas".

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A população ribeirinha, sobretudo da Portela para jusante, identificava as barcas que navegavam rio abaixo como - barcas serranas- porque vinham da zona montanhosa do Mondego - Foz do Dão / Porto da Raiva / Penacova
Todavia, na altura, identificavam-se 3 tipos de embarcações:
Barca Serrana
Barca do Lavrador
Barca de Palheiros
Praticamente, todos eles desaparecidos, já na década de 50 do século XX
Actualmente ainda podemos ver alguns réplicas de modelos e miniaturas artesanais nas lojas de turismo e Salões da Câmara Municipal de Penacova e até uma Barca Serrana no Museu da Marinha em Belém.

BARQUEIROS DO MONDEGO

O Rio Mondego, até princípios do século XX, era a única via de comunicação importante da região, dando emprego a muita gente das suas proximidades como Barqueiros, Calafetes, Carreiros, Estanqueiros, etc.
O Barqueiro do Mondego, tinha como função conduzir a Barca serrana, no transporte de lenha, carqueja e carvão para Coimbra ou Figueira da Foz. No sentido inverso, era possível receber mercadorias por mar e embarca-las rio acima. Assim, para além de peixe (seco ou salgado), sal, louça de Coimbra, vinho, etc. Paralelamente com o transporte de mercadorias, também transportavam lentes e estudantes da Universidade de Coimbra, que iam passar férias às suas terras natais.
A Barca serrana deslocava-se com a ajuda de remos, da vela, da corrente do rio e por vezes das varas (quando havia menos água), espetando-as no fundo do rio e andando pelo bordo, apoiando a vara contra o lado do peito, virados para a ré. Tinham que colocar um pano grosso, para protegerem o peito, mas mesmo assim fazia “mossa”.
O traje do Barqueiro do Mondego era composto por ceroulas até aos joelhos, uma camisola de lã, um colete, um garroço para o frio e os pés descalços ou com alpercatas de pano.
Para dormir, as barcas possuíam na proa ou na ré, umas cavidades “Leito”, onde os barqueiros dormiam, sendo o colchão de esteiras de palha, colocados por cima do estrado, e tendo como cobertores, a vela ou sacos, e dormiam com os pés para o bico.
Muitos eram os portos importantes ao longo do Rio Mondego, para carregarem e descarregarem mercadoria. Dos quais destacamos o Porto da Raiva, como sendo o mais importante, e considerado um dos maiores do país, até meados do séc. XIX. Porto este que diz a tradição, que a povoação da Raiva, era então situada na Foz do Rio Alva.
Aqui chegados, as mercadorias eram descarregadas, e depositadas em locais apropriados, e depois eram levadas em carros de bois “Os Carreiros”, e distribuídas pelos concelhos de Penacova, Arganil, Tábua, Mortágua e Oliveira do Hospital.

Nos portos de Coimbra, os barqueiros quando procediam ao carregamento ou descarregamento das barcas, tinham de calçar as alpercatas de pano, se fossem apanhados descalços pelos guarda rios, eram multados, se porventura andassem com um pé calçado e outro descalço, pagavam metade da multa.



Muitos eram os portos importantes ao longo do Rio Mondego, para carregarem e descarregarem mercadoria dos quais destacamos o Porto da Raiva, como sendo o mais importante, e considerado um dos maiores do país, até meados do séc. XIX. 
Porto este que, diz a tradição, que a povoação da Raiva, era então situada na Foz do Rio Alva. 
Aqui chegados, as mercadorias eram descarregadas, e depositadas em locais apropriados, e depois eram levadas em carros de bois “Os Carreiros”, e distribuídas pelos concelhos de Penacova, Arganil, Tábua, Mortágua, Santa Comba Dão e Oliveira do Hospital.



Vários eram os portos importantes no carregamento e descarregamento de mercadorias ao longo do Mondego, a montante de Coimbra, no século XIX e ainda em parte do século XX: Coimbra, Foz do Caneiro, Rebordosa, Ronqueira, Carvoeira, Ponte de Penacova, Vila Nova, Raiva, Carvalhal, Oliveira do Mondego, Almaça e Gondolim (actual Gondelim).

Porto da Raiva
De todos estes portos há a salientar a grande importância comercial do Porto da Raiva, que chegou a ser um dos maiores e mais importantes do país ate meados do séc. XIX, e até ao findar da navegação do Mondego o mais importante ao longo deste rio.
Era principalmente na Raiva que fabricantes de tecidos, negociantes, recoveiros e estudantes, vindos das Beiras a cavalo ou em carros de bois, tomavam o seu transporte - as barcas - em direcção a Coimbra, facilitado pelo Ramal da Raiva - que era uma estrada que passando por nove povoações, fazia a ligação «Estrada Real da Beira-Raiva» (Peixoto 1947, in Lameiras 1988). Na Raiva existia um cais e uma construção destinada ao empilhamento de lenha e madeira a exportar, tal como armazéns de sal (certamente um dos produtos mais transacionados ao longo deste rio) vindo da Figueira e indo depois até Espanha e outras localidades. Aveiro, Coimbra, Lavos, Ílhavo, Porto e província do Minho eram os pontos mais importantes para onde se exportavam as mercadorias saídas do Porto da Raiva.

Ainda no séc. XIX outros dois portos eram de vital importância ao longo do Mondego, que convém também aqui salientar:

Foz d' Alva (confluência do Mondego com o Alva) - era o porto mais importante depois da Raiva;
Foz do Dão (confluência do Dão com o Mondego) - era um porto importante principalmente no Inverno, quando as águas enchiam o rio. Deste porto a povoação em geral já não tem recordação do seu alcance devido a existência de rochas a partir da Raiva, que tornou o troço inavegável.
Vários eram os sistemas primitivos de transporte no Rio Mondego a montante de Coimbra, no entanto, um tinha lugar de primazia - a barca serrana (designação provavelmente com origem na região litoral, já que na zona o nome pelo qual era comummente conhecida a barca) que assumia, neste contexto, um papel de destaque, encontrando-se no centro das mais importantes actividades económicas e comerciais da bacia do Mondego.

Outros transportes existiam na zona: o barco, o barco do lavrador e o barco de Palheiros, menos significativos na altura quer em número (com excepção para o barco do lavrador), quer em eficácia de transporte de carga.

Desaparecidos já na década de 50 do século XX, várias são as razões apontadas para o desaparecimento destes sistemas primitivos de transporte:

A abertura de novas estradas e o melhoramento de outras, com o consequente aparecimento da camionagem, quer pública ou privada, embaratecendo e aumentando a rapidez de transporte de mercadorias e pessoas entre a serra e o litoral, foram fatores preponderantes para a cada vez menor importância destas embarcações;
O assoreamento contínuo do rio, também provocado pela construção da ponte sobre o Mondego, provocou o alteamento do leito do rio (muito mais no Verão em que os barqueiros eram obrigados a diminuir as cargas transportadas), inutilizando-o para a navegação (Martins, 1940 in Lameiras, 1988);
A própria ponte do Mondego não permitia, quando o nível das águas era alto, que as barcas passassem por baixo, desmotivando esta atividade e consequentemente o seu progressivo desaparecimento.
O Progresso também não perdoou, e a lenha deu naturalmente lugar a electricidade e ao gás, preferindo as gentes da cidade técnicas mais modernas mais cómodas e menos poluidoras;
Por fim, se tudo isto já não bastasse, a construção da barragem da Aguieira veio pôr ponto final nas ainda pequenas embarcações que teimosamente sobreviveram até essa data.
Desde o desaparecimento destes tipos de embarcações, o Município de Penacova tem feito ao longo dos anos a possível preservação da memória colectiva do seu povo em relação à Barca Serrana, com algumas actividades realizadas nesse sentido. Em Penacova existiu até há pouco no átrio da Câmara uma barca em exposição de cerca de 7/8 metros mandada fazer propositadamente para ali ser colocada, e que agora se encontra nas águas do Mondego. O exemplar melhor conservado e sem dúvida o maior de todos, mas porventura não tão rigoroso, é o que se encontra patente no átrio do Museu da Marinha em Belém. Para além destas réplicas em tamanho original, existe um número variado de réplicas em miniatura produzida por artesãos locais, que são possíveis de adquirir no Município de Penacova.

 NASCENTE DO MONDEGO

Nota: Deliberadamente continuo s escrever segundo as normas do  ACORDO DE 1945






NASCENTE

O Mondego começa por ser um rio de montanha - o Mondeguinho -  
Da nascente até Coimbra é um rio de montanha, é o Alto Mondego, de Coimbra até à foz é um rio lezíria é o Baixo Mondego.

Enquanto tal, corre num vale estreito e profundo, com «grandes quedas de desnível e carácter torrencial muito acentuado." (Amorim Girão)
Inicialmente, corre em direcção ao interior. 
Em seguida, descreve uma curva acentuada à volta de Celorico da Beira. Inverte a marcha em direcção ao litoral, no sentido NE  SW, ou seja, com uma orientação inversa e quase paralela à anterior.

Parque Natural da Serra da Estrela


Mondego em Videmonte -  a cerca de 10 Km da nascente - Parque Natural da Serra da Estrela

Caldas da Felgueira

Ponte sobre o Mondego - Caldas da Felgueira - 1930




AGUIEIRA albufeira



COIÇO ou da RAIVA albufeira



PENACOVA

Penacova - Livraria do Mondego

Junto a Penacova, depois de ter recebido o Alva (afluente da margem esquerda), o vale do Mondego estrangula-se cada vez mais ao atravessar o contraforte de Entre-Penedos. Aqui, encontram-se «altas assentadas de quartzíticos silúricos, muito fracturados». Dispostos quase verticalmente, como livros inclinados numa estante, deram origem à conhecida «Livraria do Mondego»

COIMBRA

O Mondego em Coimbra - Século XVIII (repare-se no movimento fluvial da época)

Na zona de Coimbra, logo a seguir à ponte da Portela, o vale do Mondego começa a alargar cada vez mais. Sofre ainda um ligeiro aperto ao atravessar Coimbra.
Mas já aqui começa a correr mais calmamente, tornando-se o rio mais pachorrento. Outrora, antes da construção de uma barragem, chegava mesmo a ficar quase sem água, razão pela qual os habitantes de Coimbra lhe davam o nome de «bazófias».
As grandes quantidades de areia trazidas de regiões do interior começam a depositar-se. E com isto provocou a subida do leito e o assoreamento das margens, soterrando antigas edificações. É exemplo disto o conhecido Convento de Santa Clara-a-Velha, enterrado quase por completo na margem esquerda. 

MONTEMOR-o-VELHO



Atravessada a cidade de Coimbra, o Mondego espraia-se por vastos e férteis campos, onde é cultivado o arroz estamos em pleno Baixo Mondego


FIGUEIRA da FOZ




O amplo estuário foi-se transformando, aos poucos, numa espécie de delta. Só o trabalho regular de desassoreamento tem permitido a entrada de barcos no porto da Figueira da Foz.



Coimbra - Largo da Portagem - Rio Mondego - Ponte de Santa Clara - o Basófias no Inverno 


Coimbra - Mondego e Portagem primeira metade do Séc. XX


BARQUEIROS DO MONDEGO

O Rio Mondego, até princípios do século XX, era a única via de comunicação importante da região, dando emprego a muita gente das suas proximidades como barqueiros, calafetes, carreiros, estanqueiros, etc.
Desde o Coiço / Porto de Raiva até à Figueira da Foz passando por Penacova, Portela, Coimbra, Montemor-o-Velho até à Figueira era o espaço do Barqueiro 
que  tinha como função conduzir a Barca Serrana, no transporte de lenha, carqueja e carvão para Coimbra ou Figueira da Foz. No sentido inverso, era possível receber mercadorias por mar e embarca-las rio acima. Assim, para além de peixe (seco ou salgado), sal, louça de Coimbra, vinho, etc. Paralelamente com o transporte de mercadorias, também transportavam lentes e estudantes da Universidade de Coimbra, que iam passar férias às suas terras das Beiras ou do litoral
A Barca serrana deslocava-se com a ajuda de remos, da vela, da corrente do rio e por vezes das varas (quando havia menos água), espetando-as no fundo do rio e andando pelo bordo, apoiando a vara contra o lado do peito, virados para a ré. Tinham que colocar um pano grosso, para protegerem o peito, mas mesmo assim fazia “mossa”.
À sirga 

O traje do Barqueiro do Mondego era composto por ceroulas até aos joelhos, uma camisola de lã, um colete, um garruço para o frio e os pés descalços ou com alpercatas de pano.
Para dormir, as barcas possuíam na proa ou na ré, umas cavidades “Leito”, onde os barqueiros dormiam, sendo o colchão de esteiras de palha, colocados por cima do estrado, e tendo como cobertores, a vela ou sacos, e dormiam com os pés para o bico.
Muitos eram os portos importantes ao longo do Rio Mondego, para carregarem e descarregarem mercadoria. Dos quais destacamos o Porto da Raiva, como sendo o mais importante, e considerado um dos maiores do país, até meados do séc. XIX. Porto este que diz a tradição, que a povoação da Raiva, era então situada na Foz do Rio Alva.
Aqui chegados, as mercadorias eram descarregadas, e depositadas em locais apropriados, e depois eram levadas em carros de bois “Os Carreiros”, e distribuídas pelos concelhos de Penacova, Arganil, Tábua, Mortagua e Oliveira do Hospital.
Nos portos de Coimbra, os barqueiros quando procediam ao carregamento ou descarregamento das barcas, tinham de calçar as alpercatas de pano, se fossem apanhados descalços pelos guarda rios, eram multados, se porventura andassem com um pé calçado e outro descalço, já não pagavam a multa.

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O Barqueiro do Mondego, (homem que conduzia a barca serrana entre Penacova e os portos de Coimbra e Figueira da Foz).
O Calafete (mestre carpinteiro que se dedicava á construção e reparação das barcas serranas).
O Carreiro (homem que transportava as mercadorias em carros de bois).
O Amassador de estacas (era o homem que nos rios construía as represas de águas, para os agricultores poderem regar as ínsuas junto aos rios, com as chamadas rodas ou doidas).
Os agricultores; Os carvoeiros e as tratadoras do linho.
Barqueiros do Mondego que ainda noa primeora metade do séc. XX faziam a travessia do Mondego levando passageiros de uma para a outra margem e mercadorias para montante (Penacova ou juzante Montemor e Figueira da Foz
nas suas barcaças à vela e tantas vezes puxadas pelos próprios barqueiros, outras vezes por animais,  com cabos  ao longo das pr´prias margens

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