Viajem de Cosme de Médicis a Portugal

Pier Maria Baldi - Coimbra - Aguarela a uma só cor sépia matizado - 1668-1669

sábado, 30 de março de 2019

BARCA DO MONDEGO

 Nota: Deliberadamente continuo s escrever segundo as normas do  ACORDO DE 1945


O Rio Mondego foi, em tempos idos, uma via fluvial muito importante, desempenhando um papel de relevo no comércio da região de Penacova, onde havia vários portos, sendo o da Raiva o mais importante centro de embarque e desembarque de mercadorias.
  A vida de muitos habitantes da região, sobretudo das povoações ribeirinhas, estava intimamente ligada ao rio os quais se dedicavam ao transporte de mercadorias, rio abaixo / rio acima, utilizando para o efeito uma barca, de nome “ Barca Serrana”.
  O nome “serrana” deve-se ao facto de ir da serra carregada de lenha, carqueja e ramagem, que era vendida para os fornos das padarias de Coimbra e Figueira da Foz. Para além destes produtos, eram levados, também, vinho, milho, azeite, carvão vegetal, telha e cal.
Na volta  carregava  sal, peixe fresco ou salgado, arroz e louça.





A Barca Serrana terá sido inspirada em modelos da Mesopotâmia e é da família dos moliceiros da Ria de Aveiro.
Era uma embarcação que media entre os 15 e 20 metros de comprimento por 2,40 de largura. Possuía o fundo chato de forma a facilitar a passagem pelos baixios e era utilizada sobretudo para a navegação ao longo do rio, num trajecto entre a região de Penacova e a Figueira da Foz. Tinha capacidade para transportar cargas até aproximadamente 15000 quilos. As extremidades eram em bico de ponta levantada e permitia a colocação de uma vela de lona branca, que se apoiava num mastro que poderia atingir os 8 metros de altura a fim de, com vento de feição,  substituir a vara na propulsão da barca.
Os barqueiros, eram gente pobre (pois esta profissão não enriquecia ninguém, era apenas uma forma de subsistência) andavam sempre de calças arregaçadas, e descalços.
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 A tripulação era habitualmente constituída por 6 homens.
Ao subir o rio, em direcção a Penacova, em caso de carência de vento para empurrar a barca, quatro homens, depois de amarrarem uma corda no bico da ponta levantada, saltavam para a margem e à força de braços puxavam o barco. Esta actividade, que exigia grande esforço, era conhecida como puxar o barco "à sirga”(*). Dos outros dois tripulantes, dentro da barca, um ocupava-se do leme e o outro, de vara espetada no fundo do leito, andando  pela borda da embarcação impulsionava-a para montante.
Era uma profissão muito dura  e que não teve seguidores. Actualmente esta profissão está extinta e a barca serrana é apenas um mero objecto de folclore, um vestígio de uma forma de vida que o tempo apagou
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(*)  Sirga, ou tira-vira, é um cabo (corda) utilizado para rebocar barcos em canais ou margens de rios, para ter controle do percurso ou para movê-los em condições de ausência de vento ou contra a corrente
Sirga era o cabo de sisal utilizado para rebocar os barcos a partir da margem.

Com a chegada do caminho de ferro (Linha da Beira Alta 1882), das estradas, do transporte rodoviário, a navegação a motor, este tipo de navegação e estes caminhos de sirga perderam utilidade e interesse e com eles desapareceram estas embarcações, este tipo de navegação e os próprios caminhos de sirga  "caminhos e calçadas por onde os barqueiros puxavam as barcas".

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A população ribeirinha, sobretudo da Portela para jusante, identificava as barcas que navegavam rio abaixo como - barcas serranas- porque vinham da zona montanhosa do Mondego - Foz do Dão / Porto da Raiva / Penacova
Todavia, na altura, identificavam-se 3 tipos de embarcações:
Barca Serrana
Barca do Lavrador
Barca de Palheiros
Praticamente, todos eles desaparecidos, já na década de 50 do século XX
Actualmente ainda podemos ver alguns réplicas de modelos e miniaturas artesanais nas lojas de turismo e Salões da Câmara Municipal de Penacova e até uma Barca Serrana no Museu da Marinha em Belém.

BARQUEIROS DO MONDEGO

O Rio Mondego, até princípios do século XX, era a única via de comunicação importante da região, dando emprego a muita gente das suas proximidades como Barqueiros, Calafetes, Carreiros, Estanqueiros, etc.
O Barqueiro do Mondego, tinha como função conduzir a Barca serrana, no transporte de lenha, carqueja e carvão para Coimbra ou Figueira da Foz. No sentido inverso, era possível receber mercadorias por mar e embarca-las rio acima. Assim, para além de peixe (seco ou salgado), sal, louça de Coimbra, vinho, etc. Paralelamente com o transporte de mercadorias, também transportavam lentes e estudantes da Universidade de Coimbra, que iam passar férias às suas terras natais.
A Barca serrana deslocava-se com a ajuda de remos, da vela, da corrente do rio e por vezes das varas (quando havia menos água), espetando-as no fundo do rio e andando pelo bordo, apoiando a vara contra o lado do peito, virados para a ré. Tinham que colocar um pano grosso, para protegerem o peito, mas mesmo assim fazia “mossa”.
O traje do Barqueiro do Mondego era composto por ceroulas até aos joelhos, uma camisola de lã, um colete, um garroço para o frio e os pés descalços ou com alpercatas de pano.
Para dormir, as barcas possuíam na proa ou na ré, umas cavidades “Leito”, onde os barqueiros dormiam, sendo o colchão de esteiras de palha, colocados por cima do estrado, e tendo como cobertores, a vela ou sacos, e dormiam com os pés para o bico.
Muitos eram os portos importantes ao longo do Rio Mondego, para carregarem e descarregarem mercadoria. Dos quais destacamos o Porto da Raiva, como sendo o mais importante, e considerado um dos maiores do país, até meados do séc. XIX. Porto este que diz a tradição, que a povoação da Raiva, era então situada na Foz do Rio Alva.
Aqui chegados, as mercadorias eram descarregadas, e depositadas em locais apropriados, e depois eram levadas em carros de bois “Os Carreiros”, e distribuídas pelos concelhos de Penacova, Arganil, Tábua, Mortágua e Oliveira do Hospital.

Nos portos de Coimbra, os barqueiros quando procediam ao carregamento ou descarregamento das barcas, tinham de calçar as alpercatas de pano, se fossem apanhados descalços pelos guarda rios, eram multados, se porventura andassem com um pé calçado e outro descalço, pagavam metade da multa.



Muitos eram os portos importantes ao longo do Rio Mondego, para carregarem e descarregarem mercadoria dos quais destacamos o Porto da Raiva, como sendo o mais importante, e considerado um dos maiores do país, até meados do séc. XIX. 
Porto este que, diz a tradição, que a povoação da Raiva, era então situada na Foz do Rio Alva. 
Aqui chegados, as mercadorias eram descarregadas, e depositadas em locais apropriados, e depois eram levadas em carros de bois “Os Carreiros”, e distribuídas pelos concelhos de Penacova, Arganil, Tábua, Mortágua, Santa Comba Dão e Oliveira do Hospital.



Vários eram os portos importantes no carregamento e descarregamento de mercadorias ao longo do Mondego, a montante de Coimbra, no século XIX e ainda em parte do século XX: Coimbra, Foz do Caneiro, Rebordosa, Ronqueira, Carvoeira, Ponte de Penacova, Vila Nova, Raiva, Carvalhal, Oliveira do Mondego, Almaça e Gondolim (actual Gondelim).

Porto da Raiva
De todos estes portos há a salientar a grande importância comercial do Porto da Raiva, que chegou a ser um dos maiores e mais importantes do país ate meados do séc. XIX, e até ao findar da navegação do Mondego o mais importante ao longo deste rio.
Era principalmente na Raiva que fabricantes de tecidos, negociantes, recoveiros e estudantes, vindos das Beiras a cavalo ou em carros de bois, tomavam o seu transporte - as barcas - em direcção a Coimbra, facilitado pelo Ramal da Raiva - que era uma estrada que passando por nove povoações, fazia a ligação «Estrada Real da Beira-Raiva» (Peixoto 1947, in Lameiras 1988). Na Raiva existia um cais e uma construção destinada ao empilhamento de lenha e madeira a exportar, tal como armazéns de sal (certamente um dos produtos mais transacionados ao longo deste rio) vindo da Figueira e indo depois até Espanha e outras localidades. Aveiro, Coimbra, Lavos, Ílhavo, Porto e província do Minho eram os pontos mais importantes para onde se exportavam as mercadorias saídas do Porto da Raiva.

Ainda no séc. XIX outros dois portos eram de vital importância ao longo do Mondego, que convém também aqui salientar:

Foz d' Alva (confluência do Mondego com o Alva) - era o porto mais importante depois da Raiva;
Foz do Dão (confluência do Dão com o Mondego) - era um porto importante principalmente no Inverno, quando as águas enchiam o rio. Deste porto a povoação em geral já não tem recordação do seu alcance devido a existência de rochas a partir da Raiva, que tornou o troço inavegável.
Vários eram os sistemas primitivos de transporte no Rio Mondego a montante de Coimbra, no entanto, um tinha lugar de primazia - a barca serrana (designação provavelmente com origem na região litoral, já que na zona o nome pelo qual era comummente conhecida a barca) que assumia, neste contexto, um papel de destaque, encontrando-se no centro das mais importantes actividades económicas e comerciais da bacia do Mondego.

Outros transportes existiam na zona: o barco, o barco do lavrador e o barco de Palheiros, menos significativos na altura quer em número (com excepção para o barco do lavrador), quer em eficácia de transporte de carga.

Desaparecidos já na década de 50 do século XX, várias são as razões apontadas para o desaparecimento destes sistemas primitivos de transporte:

A abertura de novas estradas e o melhoramento de outras, com o consequente aparecimento da camionagem, quer pública ou privada, embaratecendo e aumentando a rapidez de transporte de mercadorias e pessoas entre a serra e o litoral, foram fatores preponderantes para a cada vez menor importância destas embarcações;
O assoreamento contínuo do rio, também provocado pela construção da ponte sobre o Mondego, provocou o alteamento do leito do rio (muito mais no Verão em que os barqueiros eram obrigados a diminuir as cargas transportadas), inutilizando-o para a navegação (Martins, 1940 in Lameiras, 1988);
A própria ponte do Mondego não permitia, quando o nível das águas era alto, que as barcas passassem por baixo, desmotivando esta atividade e consequentemente o seu progressivo desaparecimento.
O Progresso também não perdoou, e a lenha deu naturalmente lugar a electricidade e ao gás, preferindo as gentes da cidade técnicas mais modernas mais cómodas e menos poluidoras;
Por fim, se tudo isto já não bastasse, a construção da barragem da Aguieira veio pôr ponto final nas ainda pequenas embarcações que teimosamente sobreviveram até essa data.
Desde o desaparecimento destes tipos de embarcações, o Município de Penacova tem feito ao longo dos anos a possível preservação da memória colectiva do seu povo em relação à Barca Serrana, com algumas actividades realizadas nesse sentido. Em Penacova existiu até há pouco no átrio da Câmara uma barca em exposição de cerca de 7/8 metros mandada fazer propositadamente para ali ser colocada, e que agora se encontra nas águas do Mondego. O exemplar melhor conservado e sem dúvida o maior de todos, mas porventura não tão rigoroso, é o que se encontra patente no átrio do Museu da Marinha em Belém. Para além destas réplicas em tamanho original, existe um número variado de réplicas em miniatura produzida por artesãos locais, que são possíveis de adquirir no Município de Penacova.

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