Viajem de Cosme de Médicis a Portugal

Pier Maria Baldi - Coimbra - Aguarela a uma só cor sépia matizado - 1668-1669

sábado, 30 de março de 2019

LENDA dos Três Rios da Serra da Estrela 

Nota: Deliberadamente continuo s escrever segundo as normas do  ACORDO DE 1945

LENDA dos TRÊS RIOS da SERRA da ESTRELA



“Mondego, Alva e Zêzere, nascidos da mesma mãe, serpeando pelas vertentes da serra da Estrela, em santa irmandade, amigos e camaradas, viviam tranquilos e alegres, mirando-se cada qual na limpidez das suas águas, e escondendo-se nas gargantas, furnas e sorvedoiros da gigantesca serra. Umas tardes, já quase à boca da noite, envolveram-se em azeda conversa, porque se arrogaram valentias, ao que parece prometeram romper as prisões, que os detinham, trovejaram rivalidades, e acabaram por desafiar-se para uma corrida vertiginosa, cuja meta seria o corpo enormíssimo do mar. O primeiro, que lá esbarrasse...
- Qual dos três saberia melhormente o caminho? — Qual desenvolveria maior tafularia e força? — Quem seria o primeiro a oferecer as suas águas dulcíssimas às salsas águas do mar?
Era o que ia ver-se.
O Mondego, astuto, forte e madrugador, levantou-se cedo, e começou a correr brandamente, para não fazer barulho e não levantar suspeitas, é de crer, desde as vizinhanças da Guarda nos territórios de Celorico, Gouveia, Manteigas, Canas de Senhorim, e dirigiu se, depois de se ter robustecido com a ajuda de colegas, que vieram cumprimentá-lo, à Raiva, na direcção de Coimbra, depois de ter atravessado ofegante as duas Beiras. O Zêzere, que também estava alerta, entrou de mover-se ao mesmo tempo que o Mondego, ocultando-se até certa distância nas anfractuosidades do seu leito penhascoso; foi direito propriamente a Manteigas, onde perdeu de vista o colega, passou também nos terrenos da Guarda, correu para o Fundão, desnorteou, obliquando para Pedrogão Grande; e finalmente, depois de ter atravessado três províncias, deu consigo em Constância, na Estremadura, abraçando-se ao Tejo, a que ofereceu as suas águas, já cansado de caminhar umas 40 léguas e desesperançado de alcançar o mar.


O Alva, dorminhoco e poeta, embora esses atributos não sejam sinónimos, entreteve-se a contemplar as estrelas, mais do que era prudente, adormeceu confiado no seu génio insofrido e nervoso; e, quando despontou, alto dia, estremunhado, em sobressalto, avistou os colegas a correr sobre distâncias a perder de vista. Um desastre, não havia que ver! uma imprevidência, que era forçoso remediar. O Alva atirou consigo de roldão pelos campos fora, rasgou furiosamente montanhas e rochedos, galgou despenhadeiros, bradou vingança temerosa, rugiu ; e, quando julgou que estava a dois passos do triunfo, foi esbarrar com o seu principal antagonista, o Mondego, que lá ia, havia horas, campos de Coimbra fora, em cata da Figueira, onde se lançaria jubiloso no seio volumoso do Oceano, ao ganhar a porfiada contenda.
O Alva esbravejou, como atleta sanhudo, atirou-se ao adversário, a ver se o lançava fora do leito, espumou de raiva; mas... o outro, que deslizava sereno e forte, riu-se, e engoliu-o de um trago.






O Rio Alva nasce em Sabugueiro (Seia), na encosta sudoeste da Serra da Estrela, e após percorrer mais de 100 km desagua no Rio Mondego na localidade de Porto de Raiva,  a jusante das Barragens da Aguieira e de Coice ou  Raiva,
O seu leito percorre um caminho sinuoso entre as encostas da Serra da Estrela e da Serra do Açor onde escavou o seu leito.
O Vale do Alva é o vale formado pelo Rio Alva na Serra da Estrela, onde tem origem, e na Serra do Açor, que serpenteia até desaguar no Rio Mondego.
No seu leito muitas praias fluviais surgiram como Vimieiro, São Gião, Avô, Côja, Secarias, Caldas de São Paulo, Sandomil, e a zona de lazer das Fronhas junto à Barragem em São Martinho da Cortiça.




ALDEIA DE RAIVA
e os
CAMINHOS DE SANTIAGO


Os Caminhos de Santiago, que atravessam Portugal de sul para norte, em direcção a Santiago de Compostela, capital da Galiza, geminada com Coimbra, a sede do distrito ao que pertence o Município de Penacova e seu concelho vizinho, são seguidos pelos peregrinos desde há séculos.
O destino destes Caminhos é a Catedral de Santiago de Compostela, sob a qual, diz a lenda, se encontra o túmulo do apóstolo São Tiago, que evangelizou na Península Ibérica, então província de Roma. O culto deste santo popularizou-se ao longo da Idade Média dando origem a grandes peregrinações provenientes de todos os cantos da Europa. E em Portugal teve maior difusão a partir do séc. XII, com a fundação da nacionalidade portuguesa.
Dependendo dos locais de partida dos peregrinos, percorrem-se em Portugal vários caminhos com destino a Santiago de Compostela.
Um deles, e o mais percorrido, o Caminho Central Português sai da Sé de Lisboa e segue à beira do Rio Tejo por Alverca, Vila Franca de Xira, Azambuja, Santarém, Golegã e Tomar, antiga sede dos Templários em Portugal. Daqui continua em direcção a Coimbra, passando por Alvaiázere, Ansião e Rabaçal. Em Coimbra é imperioso visitar o Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, já que aí se encontra o túmulo da Rainha Santa Isabel (séc. XIV), que peregrinou a Santiago e se fez sepultar com os símbolos da vieira, da cruz de Santiago e do bordão. Continuando para norte, o Caminho segue por Mealhada, Águeda, Albergaria-a-Velha, São João da Madeira, Grijó, até entrar no Porto, onde começam os Caminhos do Norte.

Em alternativa, os peregrinos poderão em Coimbra seguir por Aldeia do Roxo, Vila de Lorvão, Vila de Penacova, Aldeia de Porto da Raiva, Aldeia de Cunhedo, Lago da Aguieira, Santa comba Dão, Tondela, até Viseu onde poderão a partir daí seguir pelo Caminho Português Interior (www.cpisantiago.pt), que os levará por Viseu, Castro D'Aire, Lamego, Peso da Régua, Santa Marta de Penaguião, Via Real, Vila Pouca de Aguiar, e Chaves.




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