Viajem de Cosme de Médicis a Portugal

Pier Maria Baldi - Coimbra - Aguarela a uma só cor sépia matizado - 1668-1669

domingo, 31 de março de 2019

O Baixo Mondego 

Nota: Deliberadamente continuo s escrever segundo as normas do  ACORDO DE 1945










Munda, um rio impetuoso
dos romanos ao séc XXI

Uma vezes impetuoso (Inverno), outras mansinho como um cordeiro adormecido (Estio) ...

... e, quer num caso, quer no outro, muitas preocupações tem dado ao longo dos tempos


Já Afonso Henriques, quando foi morar para Coimbra, se queixava do mesmo e até derrubou a ponte que os romanos ali tinham deixado e que à época já era o principal elo de ligação no sentido Norte/Sul e vice-versa.

Desde os tempos mais remotos, pessoas e mercadorias por aqui passavam nos dois sentidos pois era o lugar mais fácil para fazer a passagem do "Munda" nestas longitudes.

Para ocidente uma vasta planície aluvial se estendia até à Figueira da Foz e praticamente era intransponível o caminho para Norte, o mesmo, mas por razões contrárias, acontecia para o lado oriental com uma orografia difícil de escalar.


O "Munda" na região de Conimbriae

Preocupações ainda com as areias que desciam da serras beirãs e provocavam o assoreamento do leito provocavam e  enormes e repetidas inundações no casco urbana e nos campos de ambas as margens da cidade. A própria ponte romana retinha muitas das areias arrastadas das serranias do interior provocando forte assoreamento.


Por isso, em 1132, Afonso Henriques,  mandou construir uma nova ponte aproveitando as fundações da romana que já andaria muito perto do milhar de anos.

Mais de um século depois, por exemplo, o vetusto Convento de Santa Clara, era testemunha e disso já queixava a Senhora Rainha Santa Isabel pois o seu Mosteiro era  inundado com demasiada frequência 

Do mesmo se lamuriavam os "senhores seguintes" que até o abandonaram e o trasladaram para o cimo da colina onde ergueram um novo mosteiro.


Sabe-se hoje que nos últimos 600 anos, o leito do Mondego, no troço de Coimbra - Figueira, tem subido, em média, 1 cm por ano.
Feitas as contas temos um crescimento de cerca de 6 metros até esta data






Dom Manuel I também pensou no problema e à falta de melhor resolve deitar abaixo a ponte do "Fundador" e, no mesmo sítio, muito provavelmente sobre as fundações da ponte afonsina, mandou construir uma nova ponte de pedra.
Esta com 24 arcos e um maiorzinho ao meio com feitio de  "O"  daí ter sido baptizada como "Ponte do Ó"
Andávamos pelo ano de 1513




Esta gravura do séc XVI poderá ser a imagem (conhecida) mais antiga de Coimbra
Ao fundo da ponte e à entrada da cidade ergue-se o edifício da portagem. Pela encosta acima sobe a couraça (muralha) até ao castelo..  À direita, o aqueduto para abastecimento de água e à esquerda, o Paço Real da Alcáçova  que a partir da aquisição dos Paços, em 1597 (Filipe I) pela própria universidade,  passou a identificar-se como "Paços das Escolas"  


Coimbra - Ponte do "O"  e Monte de Nossa Senhora da Esperança
Repare-se no  intenso movimento fluvial (barcas) bem como  de pessoas sobre a ponte
desenhada da margem direita para o Monte de Nossa Senhora da Esperança (actual Santa Clara) sendo bem visível o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha (séc. XIV) , Convento de S. Francisco (1602) e Mosteiro Novo de Santa Clara (1677)

Coimbra vista de Santa Clara (Séc. XIX)
À direita da Universidade (já com Torre construída entre 1728-33 - D. João V - por Frederico Ludovice) está desenhado o Castelo
   Pormenor curioso o da barca no centro do leito do rio puxada à sirga  para vencer a corrente e, ao centro da margem inferior da gravura, o desenho do  "O" da ponte


Ponte com 24 arcos para "ajudar" a reter as areias e provocar mais e maiores inundações

Calcule-se que até  Filipe III equacionou a resolução do problema das cheias/assoreamento da cidade capital do Mondego





No entanto o monarca que mandou fazer estudos/projectos para acalmar as repetidas iras do Mondego foi D. Pedro II que em 1684 encarregou o Reitor da Universidade de proceder aos estudos de encanamento do rio.

D. Pedro II                     

Em 1703 surge uma  planta, realizada pelos engenheiros Manoel Mexia da Silva e Manuel de Azevedo Fortes que mostra o rio desde Coimbra até à Figueira da Foz com proposta de abertura de 2 canais em linha recta com o fim de atalhar e regularizar o leito do  rio.

Projecto "alveo novo"



No tempo do Marquês de Pombal, final do séc XVIII, o padre Estêvão Cabral é incumbido de realizar novo plano e finalmente avançam-se com as obras no troço Coimbra - Pereira do Campo, trabalhos começados em 1791,
Obra que viria a ser interrompida com as Invasões Francesas
Com a abertura deste novo leito a situação dos campos do Baixo Mondego melhorou muito mas nunca foi suficiente para resolver o problema chegando-se ao século XX numa situação insustentável.



Marquês de Pombal
 Plano de encanamento do Baixo Mondego - Projecto do Padre Estêvão Cabral
A vermelho o Rio Novo

Entretanto

Ponte de Santa Clara,  tabuleiro metálico em gaiola assente em pilares de pedra (1873-75)


Ponte Santa Clara (1954) (Candeeiros com iluminação a gás)
Pouco tempo antes da inauguração. Ao lado, a jusante,  a ponte velha (séc XIX)

Com um novo Plano da década de 1960, foram construídas as barragens da Aguieira e da Raiva ou Coiço, a fim de regularizarem o volume de águas a descarregar para jusante


Açudes/Barragens:
de Fronhas (rio Alva) e Coimbra   (1981)  (nesta última foi construída em 2012 uma "escada de peixe" que ambientalistas, e bem,  reclamavam)



Finalmente (???) as águas do Mondego no seu troça final (cerca de 40 KM) estão mais ou menos regularizadas: espelho de água frente à cidade e inundações + ou - regularizadas (excepção às inundações do Inverno de 2000/2001 que voltaram a alagar a "Baixa")


Bazófias, no calão estudantil e popular, refere-se ao Mondego, rio  turbulento e raivoso no Inverno que tudo levava à frente e alagava a cidade e os campos do Baixo Mondego... depois chegava o Verão e reduzia-se a uma minúscula linha de água que a ponte-açude construída em 1981 veio acabar e oferecer um magnífico lençol de água à cidade de Coimbra.

Ontem, imagens do Bazófias em Coimbra sem água, com um imenso areal, pontes de madeira, praias fluviais, e até piscinas são históricas:

Quem se lembra disto?

O Basófias no Estio - década de 30, séc XX
Em primeiro plano e no meio do leito do rio um engenho, azenha ou nora, de tirar água com a respectiva canalização para rega dos milheirais da margem esquerda. Em segundo plano e no meio do rio a celebérrima Ponte do Modesto (pedonal e de madeira). Junto à margem, as lavadeiras  Um pouco mais acima (não visível na foto) a Praia Fluvial, segundo sei foi a primeira de Portugal
procurar fotos

e disto

Ponte do Modesto (madeira)  - pedonal e bicicletas

Ponte de madeira - Choupal -  sobre o  leito do Rio Velho

A mata do Choupal data da década de 1860


Ponte ferroviária - Estação Velha - Coimbra 


Praia Fluvial Coimbra - 1939 - margem esquerda do Mondego





Entre muitos outros consultámos:

Coimbra e o Rio Mondego
http://www4.fe.uc.pt/fontes/trabalhos/2011009.pdf

Antropologia Portuguesa
https://digitalis-dsp.uc.pt/bitstream/10316.2/30625/1/AntropologiaPortuguesa6_artigo4.pdf?ln=pt-pt

A Água como Património
https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/36232/3/Mondego%20o%20surdo%20murmurio%20do%20rio.pdf

Rancho do Miro
http://www.gssdcrmiro.pt/index.php/seccoes/autonomas/rancho-tipico

Cavalo Selvagem
http://cavalinhoselvagem.blogspot.com/2009/01/os-barqueiros-do-mondego.html

Jornadas do Património Carregal do Sal
https://www.penacovactual.pt/2018/08/jornadas-do-patrimonio-os-barqueiros-do.html

Os Barqueiros do Mondego
www.carregal-digital.pt/cmcarregaldosal/uploads/writer_file/.../index__11_.php

Porto da Raiva
http://penacovabyheart.com/pt/pages/portodaraiva

Trajes de Portugal
http://trajesdeportugal.blogspot.com/2008/09/o-barqueiro-do-mondego.html

Parque Patrimonial do Mondego
https://www.repository.utl.pt/...5/.../dissertacaoMestrado_NUNO%20MARTINS.pdf

Passeando Pela História de Santo Varão
https://www.santovarao.net/passeando-pela-historia-de-santo-varao-xix/


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